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A loucura animal

Em seu livro 'Animal Madness' ('Loucura Animal', sem edição em português), a autora mostra como cachorros deprimidos, golfinhos suicidas ou elefantes compulsivos mudaram sua visão a respeito dos humanos (Thinkstock/VEJA)

Nos últimos sete anos, a bióloga americana Laurel Braitman pesquisou a demência de cães, gatos, elefantes ou golfinhos. Nesta entrevista ao site de VEJA, ela conta sua jornada pela história da insanidade animal e explica de que forma os bichos nos ajudaram, também, a compreender a mente e emoções humanas

Aos 6 anos, Oliver, um grande cão bernese que adorava brincar de esconde-esconde, atirou-se do quarto andar do prédio onde vivia. Ansioso por estar sozinho no apartamento, ele arrancou o aparelho de ar-condicionado da parede, comeu a fiação, jogou-se pelo buraco e, milagrosamente, sobreviveu. No hospital, olhando os ferimentos de seu cão, a bióloga Laurel Braitman resolveu entender o que se passava pela cabeça de Oliver para chegar a essa atitude extrema.
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No primeiro dia de janeiro de 1889, o elefante Tip foi dado de presente à cidade de Nova York por um proprietário de circos americanos. Tip era um animal dócil que se tornou uma celebridade no Central Park Zoo. Cinco anos depois, o jornal 'The New York Times' anunciava que o elefante, demente, deveria “ser aposentado ou morrer”. Agressivo, Tip não suportava ficar dentro da jaula: tinha quebrado suas correntes e jogado o corpo sobre seu tratador, tentando pisoteá-lo. Três anos depois, em um novo ataque, as paredes da jaula tremeram — mas o tratador sobreviveu. Uma grande campanha nos meios de comunicação discutiu com o público o futuro de Tip — os jornais argumentavam que o elefante era inteligente o suficiente para ficar maluco. Ativistas animais eram contra a morte do animal, mas, em maio de 1894, o zoológico decidiu sacrificá-lo. Tip tinha perseguido pelo menos quatro funcionários do Central Park com a intenção de matá-los o que, na época, era classificado de insanidade. Ele comeu uma ração envenenada e seu esqueleto e presas foram doados ao Museu Americano de História Natural, onde estão até hoje.
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Procurou veterinários, psiquiatras, psicólogos e neurologistas e passou os últimos sete anos pesquisando animais que, como o seu bernese, apresentavam transtornos mentais. Encontrou elefantes com ataques de ansiedade, ursos depressivos, gorilas com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), ratos e papagaios com tricotilomania (o impulso de arrancar os próprios cabelos) e golfinhos suicidas. “Identificar e entender a insanidade animal e ajudá-los a se recuperar diz muito sobre nossa humanidade. Quando estamos ansiosos, raivosos, assustados ou compulsivos mostramos o quanto somos surpreendentemente iguais às outras criaturas com quem dividimos o planeta”, diz Laurel.
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John Daniel foi capturado em 1917, nas florestas do Gabão, e levado para viver na vitrine de uma loja de departamentos londrina — a ideia é que ele fosse uma excelente atração para o Natal. Ao vê-lo por trás dos vidros, a jovem Alyse Cunningham, resolveu comprar o macaco e levá-lo para sua casa. Ela colocou uma cama para John em um dos quartos da casa, ensinou-o a usar talheres, copos, abrir e fechar portas e, em seis semanas, ele andava pela casa como um membro da família, conduzindo as visitas pela mão para o interior da casa. Suas façanhas eram noticiadas pelos jornais ingleses e chamaram a atenção de donos de zoológicos e circos, que queriam exibi-lo a todo custo. Até então, todos os gorilas cativos morriam devido ao que os cientistas chamavam de nostalgia e melancolia. Quando John Daniel começou a crescer, Alyse decidiu que não poderia manter um animal de cerca de 300 quilos em casa. Encontrou o que parecia ser um bom lugar na Flórida, nos Estados Unidos, e vendeu seu macaco. Sem que ela soubesse, em 1921, John Daniel chegou a um circo e manteve-se isolado, sem comer e com a cabeça coberta por um lençol durante todo o tempo. Os jornais diziam que ele estava "morrendo de tristeza e solidão". Assim que Alyse soube o que tinha acontecido, embarcou para recuperar o macaco, mas não chegou a tempo: ele morreu, deprimido, três semanas depois de desembarcar nos Estados Unidos.
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No livro Animal Madness (Loucura Animal, sem edição em português), recém-lançado nos Estados Unidos, a bióloga, que também é especialista em história da ciência pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), reconstrói a história da demência animal e conta como transtornos mentais de macacos, ratos, cachorros ou gatos impulsionaram a compreensão da mente humana. Foram eles as cobaias para testar os primeiros antidepressivos ou ansiolíticos inventados. E, da mesma maneira que nossa compreensão a respeito de distúrbios mentais evoluiu ao longo dos anos, o entendimento do cérebro e comportamento animais vem passando por uma revolução. De acordo com Laurel, a ciência não questiona mais se os animais têm emoções, mas se interroga, atualmente, que tipo de emoções são essas e de onde vêm.  
Nesta entrevista ao site de VEJA, a autora, que esteve no Brasil em outubro para acompanhar a conferência TED Global, no Rio de Janeiro, conta como foi sua jornada para desvendar a história da demência animal. E explica de que forma essa compreensão mudou também sua visão a respeito dos seres humanos.
Seu cão foi a porta de entrada que a fez descobrir a loucura dos animais. Quando percebeu que ele poderia ter algum distúrbio? Adotei o Oliver em 2002 e ele era uma criatura feliz e adorável. Mas, com seis meses de convivência, percebi alguns problemas. Ele não conseguia ficar sozinho e comia qualquer coisa que não fosse comida. Basicamente, ele ficava calmo apenas perto de mim e entrava em pânico isolado ou na presença de qualquer outro ser. Seu comportamento era muito distinto de todos os animais que conhecia.
Foi nesse momento que ele recebeu o diagnóstico de ansiedade? Achava apenas que ele era diferente — jamais pensei que animais pudessem ter transtornos mentais. Cresci em uma fazenda repleta de bichos e nunca havia visto algum com esse tipo de problema. Para mim, dizer que um animal tinha esses distúrbios era projetar sentimentos e emoções humanas neles. Mas percebi que meu cão era esquisito e, pouco tempo depois, ele se jogou da janela do quarto andar. Assim que se curou dos ferimentos causados pela queda, levei Oliver a um veterinário que receitou para ele Prozac e Valium.
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Little Joe tem 16 anos, mora no Franklin Park Zoo, em Boston e é famoso por suas escapadas: às vezes machuca algumas pessoas mas, normalmente, apenas caminha pela vizinhança. Em uma de suas fugas, em 2003, ele andou pela cidade durante algumas horas e se sentou em um ponto de ônibus para descansar. Uma das pessoas que o viu achou que ele era um jovem “com uma grande jaqueta escura e máscara”. Quando não está planejando fugas, Little Joe também é conhecido por arrancar seus pelos, uma doença mental chamada tricotilomania. Ele arranca os pelos de seus braços e, às vezes, come-os, deixando aparecer largos espaços de pele com feridas. A doença também atacou a gorila Kiojasha, do Bronx Zoo de Nova York, que arrancou tantos pelos que os visitantes a confundiram com uma “idosa bastante enrugada”. Os veterinários acreditam que, em animais como primatas, ratos e aves, a doença se intensifica quando estão muito ansiosos ou irritados.
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Esses medicamentos são normalmente dados a cães? Nunca havia visto isso. Achei muito estranho e fui pesquisar como eles funcionavam nos cachorros. Mas não encontrei muita coisa sobre seu efeito em bichos e nem sobre como eles são usados em clínicas veterinárias. Como não havia livros, comecei a conversar com treinadores, cientistas e especialistas em comportamento animal para saber se esses medicamentos tinham em cães a mesma função que em nós e também para entender o que estava acontecendo com o Oliver. Aos poucos, fui descobrindo que os animais, como nós, também têm transtornos mentais e, sim, tomam os mesmos remédios que nós para tratá-los. Foi aí que pensei em escrever um livro que pudesse ajudar outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que vivi.
E que tipo de distúrbios os animais podem ter? Assim como em humanos, muitas das doenças mentais dos animais têm a ver com reações inapropriadas ao medo e à ansiedade. Isso acontece porque essas respostas são coordenadas pelas regiões mais primitivas do cérebro, compartilhadas pela maior parte dos vertebrados. Assim como nós, os animais sentem medo ou ansiedade em ocasiões desnecessárias e desenvolvem compulsões como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e várias outras formas de distúrbios mentais como ataques de ansiedade ou depressão.
Ou seja, se a base para o medo é a mesma, provavelmente elas também podem funcionar de maneira inadequada em animais, assim como acontece conosco. Exatamente. Por isso, os primeiros tratamentos e medicamentos para doenças mentais foram estudadas em animais. Há mais de um século, o médico russo Ivan Pavlov [1849-1936] estimulava conflitos psicológicos em cães e gatos para entender seu mecanismo. Durante a II Guerra Mundial, muitos médicos perceberam os mesmos sintomas daqueles animais nos soldados, no que viria a ser o stress pós-traumático. Nos anos 1930, as primeiras lobotomias foram feitas em dois chimpanzés agressivos e ansiosos e, na mesma época, outras criaturas foram cobaias para o desenvolvimento dos eletrochoques para tratar convulsões da esquizofrenia. Até hoje, novos medicamentos para doenças mentais são testados inicialmente em animais: ratos, porcos e gorilas ajudaram a entender os distúrbios humanos e, agora, nós estamos usando nossos remédios neles.
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Em 2003, com um ano de idade, Rara foi vendida para um dos hotéis Sheraton da Tailândia. Cresceu em um pavilhão e era trazida para tirar fotos e brincar com os hóspedes. Carismática e divertida, era a alegria das crianças que chegavam ao hotel. Ao fazer seis anos e pesando algumas toneladas, ela já precisava ser acorrentada mais vezes por dia, pois suas brincadeiras tornaram-se perigosas. Pouco tempo depois, foi vendida para um santuário. No entanto, como tinha sido criada com humanos, não se deu bem com os outros da sua espécie — só se comunicava com seu tratador e, um dia, quando ele faltou, aterrorizou o parque, esmagando árvores e carros. Isolada de outros elefantes e com alguns ataques de agressividade e ansiedade, ela morreu de ataque cardíaco pouco tempo depois, em 2010, depois de passar uma noite sem comer.

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No entanto, os homens são capazes de responder emocionalmente ao medo. Os animais também? Tive uma conversa muito interessante com a cientista Lori Marino, que trabalha na Universidade Emory, nos Estados Unidos, e durante anos pesquisou a cognição em golfinhos. Ela me explicou que as emoções são uma das partes mais antigas da psicolgia, presente nos primeiros animais. Sem elas, um indivíduo não consegue agir ou ter decisões que são chave para a sobrevivência. Elas são selecionadas, algumas são mais simples, outras mais complexas, mas todos os animais têm emoções. Homens, grandes macacos, golfinhos e elefantes, que possuem um cérebro mais desenvolvido, podem elaborar estratégias para lidar com o medo ou a ansiedade. Mas, como a estrutura para as emoções é semelhante, a experiência emocional pode ser similar em todas as espécies, apesar da inteligência.
Vários estudos recentes têm sido publicados sobre o que seriam as emoções animais. Há pesquisas sobre suas dores emocionais ou mentais? Nos últimos anos, diversas pesquisas têm mostrado que os animais sofrem traumas emocionais. A discussão científica está mudando e deixou de ser ‘será que os animais têm emoções’, para ‘quais são elas e de onde vêm?’. Achamos que é uma novidade colocar cães em aparelhos de ressonância magnética funcional (fMRI) e pesquisar a neurociência das emoções animais — mas a inovação são as técnicas, que conseguem medi-las com bastante precisão. Mas quem trabalha com os bichos está acostumado com isso e não acha surpreendente que os animais tenham uma vida emocional rica e complicada.
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Nos anos 1960, o golfinho Flipper foi o astro de uma série de televisão americana com o mesmo nome. No entanto, Flipper não era apenas um golfinho, mas cinco animais diferentes, treinados para mesmo papel. Um deles era Kathy, uma fêmea dócil, que vivia no aquário de Miami. Depois que a série acabou, em 1967, a interrupção da rotina de gravações e treinamentos a abateu profundamente. Ficou deprimida e passava seus dias boiando na água, o que lhe rendeu diversas bolhas e queimaduras. Preocupados com sua saúde, o tratadores achavam que ela tinha “perdido a vontade de viver” e a isolaram em um tanque de aço, mas o animal quase não se alimentava. Fraca, respirando com dificuldades, ela morreu em 1970. O americano Ric O'Barry, que treinou a animal durante a série e estava na piscina quando ela morreu, acredita que Kathy tenha se suicidado. "Cada respiração de um golfinho fora da água é um esforço consciente e ela decidiu não respirar. Isso se chama suicídio ou asfixia induzida", afirma em seu livro 'Behind th Dolphin Smile' (Por trás do Sorriso do Golfinho, sem edição em português).

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Como assim? Elefantes que viram os mais velhos sendo mortos, cachorros que sobreviveram a explosões ou foram obrigados a trabalhar sob stress — como que escaparam do atentado ao World Trade Center ou do furacão Katrina — foram descritos como depressivos, agitados, ansiosos ou agressivos. No entanto, não sabemos e nunca saberemos se um animal tem os mesmos sentimentos de um humano — muito menos de um homem que sofre stress pós-traumático. Mesmo para nós, não há uma única forma de experimentar essa doença: cada pessoa vive os sintomas de uma maneira diferente.
Então os animais, além de emoções e distúrbios mentais, experimentam a doença individualmente? Um dos encontros mais interessantes que tive ao fazer o livro foi com “monge de elefantes”, em um vilarejo da Tailândia, em 2010. Seu trabalho é ajudar os elefantes que se tornam tristes, agressivos e descobrir por que isso está acontecendo. Fui até lá perguntar a ele qual a visão que ele tinha da mente animal, se os elefantes poderiam ‘perder a cabeça’ como nós. Ele simplesmente me disse que eu não precisava ter ido até lá perguntar isso, pois é óbvio que os animais têm sentimentos e emoções. E o que faz um elefante triste não é exatamente o que chateia outro elefante. No entanto, ainda acreditamos que só os humanos sentem como indivíduos e que os animais agem como espécie. Vários estudos têm mostrado que muitos animais não são assim. Eles também têm respostas individuais, de acordo com sua história e características.
No entanto, nunca saberemos o que os animais estão pensando. Mas também não conhecemos o raciocínio de nossos maridos, amigos ou filhos. Podemos perguntar a eles, mas isso não significa que vão nos dizer. De certa maneira, projetamos nossas ideias e nossa visão de mundo em outros humanos também. Fazemos isso todos os dias, o tempo todo. Temos tanto em comum com outros animais e, durante muito tempo, excluímos qualquer forma de projeção ou antropomorfização, vistas como sentimentais ou pouco científicas. No entanto, não temos escolha, não conseguimos tirar nosso cérebro de nossas cabeças para pensar sobre outros seres. Objetivamente, quando pensamos sobre mente, emoções animais ou mesmo a sanidade e loucura dos bichos, isso não existe — por isso, acredito que é mais útil projetar nossas ideias e raciocínios nos animais da melhor maneira possível, sem sermos tão centrados em nossas opiniões e valores. É muito difícil ser uma animal que sente. Perceber isso fez com que eu enxergasse todos os animais — inclusive os homens — de uma maneira muito mais generosa.
Há muitos bichos com problemas mentais? Os distúrbios mentais humanos são descritos no DSM, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. Mas, para o diagnóstico de animais, só temos o Google. Entretanto, os cientistas estimam que cães expostos a explosões ou combates estejam bastante sujeitos a stress pós-traumático: dos 650 cães militares enviados para as guerras no Iraque ou Afeganistão, 5% foram diagnosticados com o transtorno. Além disso, nos Estados Unidos e Europa, milhões dos mais de 16 bilhões de animais criados em laboratórios ou fazendas exibem comportamentos anormais. Isso inclui 91,5% dos porcos, 82,6% de galinhas, 50% de ratos de laboratório e 18,4% dos cavalos. A tricotilomania (o impulso de arrancar os próprios cabelos) foi identificada em seis espécies de primatas, além de ratos, porcos, coelhos, carneiros, cães e gatos. Há casos históricos de elefantes ou macacos deprimidos, mas nunca prestamos muita atenção neles.

O conhecimento de algumas doenças mentais humanas, como a hiperatividade, é recente. Isso também acontece com os animais? Se meu cão ansioso tivesse vivido no século XIX, provavelmente seu diagnóstico seria de insanidade, nostalgia ou melancolia. Os rótulos que usamos para comportamentos estranhos dos animais correspondem aos dados aos humanos. Veterinários, fazendeiros ou donos de animais aplicaram termos como histeria ou melancolia aos animais como hoje falam de TOC ou depressão. Nossos esforços para compreender a mente animal sempre refletiram nossas ideias a respeito da mente humana. É como olhar para um espelho que mostra também a história das doenças mentais humanas. Conhecer essa história nos ajuda, também a compreender a evolução do conhecimento sobre nossas próprias emoções e sentimentos.

É possível ler a mente dos cachorros?

Equipado com sensores de eletroencefalograma, o dispositivo 'Chega de Latido' ('No More Woof', em inglês) promete traduzir os pensamentos dos cães (Divulgação/VEJA)
Um time de inventores suecos criou um dispositivo que promete traduzir o que se passa na cabeça de um cão. Ao site de VEJA, neurocientistas e especialistas em comportamento animal discutem a validade da invenção e mostram o que sabemos — e o que descobriremos — sobre a mente canina



Um par de fones de ouvido, dois eletrodos e um microfone. Essa é fórmula do projeto "No More Woof" ("Chega de Latido", em português), desenvolvido há um ano por inventores suecos daSociedade Nórdica para a Invenção e Descobertas (NSID), para revelar os pensamentos dos cães. Por 65 dólares é possível comprar uma versão simplificada do dispositivo, que promete identificar cansaço, fome e curiosidade. Ao desembolsar 300 dólares, o comprador recebe um produto que seria capaz de distinguir quatro ou mais pensamentos.

Funciona assim. Os eletrodos do dispositivo fazem um eletroencefalograma em tempo real do cachorro, e identificam padrões. Os padrões elétricos são então transmitidos aos fones, conectados a um software de interface cérebro-máquina e traduzidos em voz alta por um microfone. Dessa forma, quando menos se espera, o cão avisa: "Estou cansado" ou "Quero brincar".

"Tínhamos um sensor de eletroencefalograma no escritório — aqui na Suécia eles podem ser encontrados em qualquer loja de brinquedos, pois são usados para interagir com videogames — e o colocamos na cabeça de um cachorro que estava brincando por ali. Vimos que ele emitia sinais e tivemos a ideia", explica Per Cromwell, responsável pela criação do produto.

A cognição canina é um assunto ao qual muitos pesquisadores têm se dedicado. Em uma pesquisa publicada neste mês no periódico Behavioural Processes, o neurocientista Gregory Berns, da Universidade Emory, nos Estados Unidos, descobriu, com a ajuda da ressonância magnética, que os cães têm a habilidade de experimentar emoções positivas, como amor e apego. Berns e os inventores nórdicos se dedicam a responder a mesma questão: "Em que meu cachorro está pensando?". O que varia — e muito — é o rigor metodológico empregado.

Da equipe sueca fazem parte designers, cientistas, técnicos e artistas — "alguns deles malucos", esclarece Cromwell. "Nossa tecnologia mede a quantidade de atividade cerebral. Se ela é muita, então sabemos que, provavelmente, o cão está curioso ou agitado, o que se traduz como 'Quero brincar' ou ‘O que é isso?'. Se a atividade é menor, sabemos que o cão está cansado e, provavelmente, diria 'Quero ficar sozinho'", explica. Até o fim do ano, a promessa é identificar mais padrões e desenvolver versões chamadas "superiores".

Para isso, o time lançou em dezembro uma campanha de crowdfunding para arrecadar recursos na plataforma digital Indigogo. O objetivo era criar "o primeiro protótipo para traduzir pensamentos animais em inglês". Da meta de 10.000 dólares, os suecos arrecadaram mais que o dobro: 22.664 dólares.

Mais criatividade que ciência — O grupo de inventores nórdicos deixa claro em seu site que todos os seus produtos devem ser encarados como esboços ou suportes de pesquisas. Além do tradutor de pensamentos caninos, eles criaram um tapete mágico para animais de estimação (que eleva a 7 centímetros do chão bichos com até 2,4 quilos), uma nuvem para colocar dentro de casa e reproduzir o clima exterior e uma cadeira de balanço que recarrega iPads e iPhones.

"A Sociedade é feita, principalmente, de pessoas criativas com um grande interesse em tecnologia. Somos mais criativos do que científicos", explica Cromwell. "Como nosso trabalho é conceitual, precisamos de mentes ágeis. Cientistas às vezes não são tão flexíveis, então tentamos encontrar pessoas que tenham um conhecimento maior de coisas diferentes."

Sinais confusos — A crítica talvez seja dirigida a neurocientistas e especialistas em comportamento animal, que se unem para dizer que a invenção sueca não deve ser levada a sério. Por enquanto. "O projeto descrito no site 'Chega de latidos' não é ciência", afirma o neurocientista Attila Andics, pesquisador da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria. "Na minha visão, um grupo de pessoas criativas e entusiasmadas apareceu com algo divertido e agora está querendo dinheiro para testá-lo — sem, talvez, ter consultado um especialista no assunto."

Segundo Gregory Berns, o eletroencefalograma não é a estratégia adequada para analisar os sinais cerebrais de emoções em cães. "Diferentemente dos humanos, a maior parte da cabeça dos cachorros é feita de músculos. E o movimento desses músculos causa sinais elétricos que também são captados pelos eletrodos. Eles incluem movimentos das mandíbulas, dos olhos e das orelhas", explica o pesquisador.

Isso quer dizer que a agitação da orelha do animal ao espantar um mosquito emitiria uma quantidade considerável de sinais elétricos. No dispositivo da Suécia, esse movimento isso seria traduzido por "Quero brincar".

No que os cães pensam — Nos últimos três anos, Berns tem se dedicado a decifrar o pensamento canino — embora a ciência ainda não saiba se os animais são capazes de raciocinar. Ele treinou o seu cão e mais onze cachorros para se submeterem a um exame de ressonância magnética, mapeou seus cérebros e descobriu que a estrutura e função de uma de suas partes importantes, chamada núcleo caudado, é bastante semelhante a de humanos. Em nós, essa região está ligada à antecipação de coisas que gostamos, como comida ou amor. Os cães estudados por Berns mostraram uma intensa atividade no núcleo caudado quando sentiam o cheiro dos donos ou viam sinais de comida. Também respondiam positivamente quando o dono retornava após um rápido momento fora.

Suas conclusões, publicadas no periódico científico e no livro How Dogs Loves Us: A Neuroscientist and His Adopted Dog Decode the Canine Brain (Como os Cachorros nos Amam: Um Neurocientista e Seu Cão Adotado Decodificam o Cérebro Canino, lançado em 2013 e sem edição em português), indicam que os cães demonstram amor por meio de atitudes inequívocas: depois de comerem, sentam-se aos pés do dono como se agradecessem o alimento; querem dormir perto de quem passa mais tempo com eles ou fazem festa quando o dono volta depois de horas afastado.

"Nossa meta é determinar como funciona o cérebro dos cães e, mais importante, o que eles pensam de nós. Depois de treinar e escanear uma dúzia de cachorros, minha conclusão é: cães também são gente", afirmou o pesquisador em artigo publicado em dezembro no jornal The New York Times.

Percepção canina — Além das sensações positivas, os cães também sabem decodificar sons humanos. Há pouco menos de um mês, o neurocientista húngaro Attila Andics, comprovou em um estudo publicado no periódico Current Biology que, pelo tom da voz, cachorros podem identificar se o dono está feliz ou triste. Para chegar a essa conclusão, ele e sua equipe fizeram exames de ressonância magnética nos animais, também treinados para os testes. Perceberam que seu cérebro tem mais atividade quando ouve vozes humanas ou latidos, e se intensifica se o som ouvido é emocionalmente positivo.

Os pesquisadores foram os primeiros a perceber que as áreas cerebrais que respondem à voz são parecidas em homens e cães. "Acreditamos que, por isso, a comunicação vocal entre as duas espécies é fácil e bem sucedida", diz Andics. Entre os próximos passos de suas pesquisas está descobrir como funciona a sensibilidade dos bichos a palavras e analisar se os cães processam e consolidam sua memória durante o sono, de maneira semelhante aos humanos.

"O fato de que os cachorros são capazes de participar desses experimentos abre espaço para um novo caminho na área da neurociência comparada. Listamos uma dezena de testes que queremos fazer, que possam mostrar como o cérebro dos animais responde a informações fonéticas e semânticas e como eles reconhecem e categorizam informações sociais", diz o pesquisador. "Sabemos muito bem que cães são bons em se conectar com os sentimentos de seus donos e que um bom dono pode detectar mudanças emocionais em seus bichos — mas agora começamos a entender por que tudo isso acontece."

Linguagem de cachorro — Os milhares de anos de convivência entre cães e humanos fizeram com que a comunicação entre as duas espécies se tornasse bastante eficaz. E isso se baseou em duas estratégias bem pouco tecnológicas: a atenção dos donos e os latidos dos animais. No livro Seu Cachorro é um Gênio!, publicado em 2013, o neurocientista americano Brian Hare, fundador do Centro de Cognição Canina da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mostra que os animais desenvolveram três grandes grupos de latidos: os de alerta, os para chamar a atenção e os para brincar. Os primeiros são mais graves e os últimos, mais agudos e espaçados. Cães também são capazes de emitir diversos sons para se expressar — com altura, duração e frequências diferentes.

De acordo com o biólogo John Bradshaw, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra, que estuda o comportamento de animais de estimação há trinta anos, toda essa variedade de barulhos surgiu porque esses bichos evoluíram desenvolvendo estratégias comunicativas complexas com os humanos. Em seu último livro, Cat Sense (publicado em 2013 e ainda sem tradução no Brasil), Bradshaw compilou os últimos estudos sobre comportamento e neurociência animais e mostra como essa nova leva de pesquisas está ensinando os homens a interpretar não só os latidos, mas também as atitudes e gestos de seus bichos. É o avanço científico que vai nos ensinar a decodificar os pensamentos de nossos cachorros, sem a necessidade de nenhum aparelho.

Por isso, para o cientista, um equipamento como o dos inventores suecos ainda está na categoria de produtos caros e enganosos. "Hoje ainda não há tecnologia para ler a mente de um cachorro enquanto ele está se movimentando. E duvido que alguém consiga captar eletroencefalogramas confiáveis através dos pelos", afirma. Em alguns anos, no entanto, teremos mais habilidades para compreender as emoções de nossos animais — e essa capacidade virá do conhecimento fornecido por uma série de estudos em biologia, neurociência e comportamento animais, que se intensificaram nas últimas décadas. A união das três áreas fará com que, em alguns anos, possamos aprender ainda mais sobre o que se passa dentro da cabeça de nossos cachorros, interpretando suas sensações e sinais.


"Os cães certamente se beneficiam do conhecimento que temos de suas verdadeiras naturezas, que só pode vir da ciência", afirma o biólogo. "Eventualmente, no futuro, será possível medir as emoções caninas por meio de ressonância magnética."

Seu cachorro é um gênio — saiba o porquê

Livro mostra que capacidades de comunicação de cachorros são muito semelhantes às de bebês humanos(Thinkstock/VEJA)

Neurocientista especialista em antropologia evolutiva afirma que o cão é o segundo mamífero mais bem-sucedido do planeta, atrás apenas dos humanos

Em um mundo em que o nascimento de bebês cai, a população de cães de estimação aumenta. É cada vez mais comum encontrar animais cercados de mimos, tratados como filhos pelos donos. O sucesso dos cachorros entre os humanos se explica pela genialidade canina, segundo Brian Hare, neurocientista fundador do Centro de Cognição Canina da Universidade Duke, nos EUA, e sua mulher, a jornalista e cientista Vanessa Woods, autores do livro Seu Cachorro É um Gênio!(Ed. Zahar), que chega às lojas nesta quinta-feira. 

Baseados em um conjunto de trabalhos sobre o assunto que apelidaram de caninognição – ou seja, a cognição dos cães –, os autores chegaram à conclusão de que o processo evolutivo que transformou lobos em cachorros domésticos fez com que os animais adquirissem um novo tipo de inteligência social.
Essa inteligência teria tornado os cães muito semelhantes a bebês humanos, em termos de comportamento e de habilidades de comunicação – conquistando seus donos definitivamente. De acordo com Brian Hare, depois dos seres humanos, os cachorros são os mamíferos mais bem-sucedidos do planeta, superando até mesmo os chimpanzés, famosos por sua esperteza.

Cães sentem ciúme do dono, diz estudo

Cachorro: manifestação mais elementar do ciúme pode afetar cães (Thinkstock/VEJA)

Pesquisa constatou que os animais mostravam mais ciúme quando seus proprietários interagiam com algo que parecia ser um cachorro do que quando davam atenção a outros objetos

Uma pesquisa confirmou o que muitas pessoas que têm cachorros já sabem: os cães sentem ciúme de seus donos. Em um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico Plos One, os peludos se mostraram mais ciumentos quando seus proprietários eram afetivos com algo que parecia ser outro cão do que quando faziam isso com objetos aleatórios.

No experimento, os autores aplicaram em 36 cães um teste que mede o ciúme em bebês de seis meses de idade. Eles analisaram como os animais reagiam quando seus donos os ignoravam para interagir com três objetos: um bicho de pelúcia igual a um cachorro — que latia e abanava o rabo —, uma abóbora de Halloween e um livro. Os cachorros demonstraram significativamente mais ciúme quando o dono dava atenção ao bicho de pelúcia do que quando se concentrava nas demais peças. 

Enquanto a maioria dos estudiosos se refere ao ciúme como uma emoção de complexa cognição, os autores da pesquisa sugerem que pode haver uma manifestação mais elementar do sentimento, que envolve a proteção de suas relações afetivas. Para eles, essa manifestação básica do ciúme afetou os cachorros.
"Muitas pessoas presumem que o ciúme é uma construção social humana ou uma emoção exclusiva das relações sexuais e românticas", afirma a coautora do estudo, Christine Harris, professora do departamento de psicologia da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos. "Nossos resultados desafiam essas ideias, mostrando que outros animais além de nós mesmos exibem uma forte angústia quando um rival adquire o afeto de um ente querido."

Seu pet é como um filho para você? Estudo explica por quê

Os resultados mostraram similaridades na forma como importantes regiões do cérebro reagiram às imagens do filho e do animal de estimação de cada mulher (VEJA)
Cientistas americanos analisaram como importantes estruturas cerebrais são ativadas quando mulheres veem uma imagem de seus filhos ou de seus cães

Diante da crescente quantidade de donos de animais de estimação que se consideram "pais" de seus pets, pesquisadores americanos decidiram estudar em que medida o relacionamento entre eles se parece com uma relação entre pais e filhos. Cientistas do Hospital Geral de Massachusetts analisaram como importantes estruturas cerebrais são ativadas quando mulheres veem uma imagem de seus filhos ou de seus cães. A pesquisa, publicada nesta sexta-feira no periódico Plos One, teve resultados surpreendentes. 
"Animais de estimação têm um lugar especial no coração e na vida de muitas pessoas, e vários estudos mostram que interagir com pets pode ser benéfico para o bem-estar físico, emocional e social dos humanos. Pesquisas anteriores revelaram que os níveis de oxitocina, hormônio envolvido na ligação materna, aumentam depois da interação com um pet", afirma Lori Palley, pesquisadora do Centro de Medicina Comparativa do Hospital Geral de Massachusetts, e uma das autoras do estudo.
Pesquisa — Participaram do estudo catorze mulheres com pelo menos um filho entre 2 e 10 anos e um cachorro de estimação há pelo menos dois anos. Na primeira etapa, os cientistas perguntaram às voluntárias como era seu relacionamento com os filhos e com os animais, e fotografaram as crianças e os cães em suas residências. Na segunda e última sessão, as participantes foram submetidas a exames de ressonância magnética, que analisaram a atividade cerebral das voluntárias enquanto elas via uma série de imagens, dentre as quais fotos de seus filhos e pets.
Os resultados mostraram semelhanças na forma como regiões do cérebro reagiram às imagens do filho e do animal de estimação de cada mulher. Áreas relacionadas a funções como emoção, recompensa, afiliação, processamento visual e interação social revelaram atividade elevada quando a participante via as fotos tiradas em sua casa. Uma região associada à formação de vínculos (substância negra e área tegmental ventral) foi ativada apenas quando a foto do filho de cada uma era mostrada, porém o giro fusiforme, área envolvida no reconhecimento facial e outras funções de processamento visual, mostrou uma resposta maior diante das imagens dos cachorros do que dos filhos.
"Apesar de ser um estudo pequeno, os resultados sugerem que uma região importante para a formação e manutenção de vínculos é ativada quando as mães veem fotos de seus filhos ou de seus pets", afirma Luke Stoeckel, coautor do estudo e pesquisador do departamento de psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts. Os pesquisadores destacam que pesquisas futuras serão necessárias para replicar essas descobertas em uma quantidade maior de pessoas e constatar se elas se mantêm em outras populações, como mulheres sem filhos, homens com filhos e pais de crianças adotadas, e também em relação a outras espécies de animais.

Cachorros também são pessimistas, diz estudo

O cachorro pessimista acha que mais coisas ruins ocorrem em sua vida (Heitor Feitosa /VEJA)
Pesquisa publicada na revista 'Plos One' mostra que cada cão tem uma personalidade e reage de maneiras diferentes aos estímulos humanos


Contentes e bem-dispostos, os cães são vistos como fonte de alegria em praticamente qualquer circunstância. Porém, alguns deles podem ser profundamente pessimistas, como demonstra um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Plos One. De acordo com a pesquisa, realizada na Universidade de Sydney, na Austrália, cada cachorro demonstra uma maneira diferente de olhar a vida — e alguns esperam que poucas coisas boas aconteçam em seus dias.

Para testar como os cachorros julgam os acontecimentos, os pesquisadores usaram 40 cachorros de raças variadas de 1 a 3 anos. Os animais foram treinados para associar dois sons diferentes a duas recompensas. Um dos toques sinalizava que iriam ganhar leite como recompensa e o outro, água.

Após essa etapa, os cientistas soaram sons distintos dos anteriores. Caso os cachorros respondessem ao som esperando leite, que eles gostam muito, eram classificados como otimistas. São aqueles que aguardam coisas boas, em qualquer circunstância. Se não demonstrassem reação alguma, eram considerados pessimistas, ou seja, acreditando que menos coisas boas ocorrem.

A maior parte dos cães se mostrou otimista, mas a surpresa foi que vários animais não esboçavam reação alguma aos sons — sendo, portanto, bastante pessimistas. Esse grupo também se estressa mais com a repetição de alguma atividade, enquanto os otimistas não se incomodam com isso.

Otimistas X Pessimistas — “Saber se o cão é pessimista ou otimista tem importantes implicações no bem estar do animal. Com essa informação, podemos saber quando o cão está em seu estado normal, ou não”, explica Melissa Starling, da Faculdade de Ciência Veterinária da Universidade de Sydney e coautora da análise.

Além disso, os pesquisadores esperam que o estudo ajude treinadores a escolherem qual cão pode exercer funções de trabalho, como acompanhantes ou cães de guarda. “Um cachorro pessimista que evita riscos seria melhor como um cão-guia. O cachorro otimista seria mais adequado para servir de cão farejador de drogas, por exemplo”, diz Melissa.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Canine Sense and Sensibility: Tipping Points and Response Latency Variability as an Optimism Index in a Canine Judgement Bias Assessment

Onde foi divulgada: periódico Plos One

Quem fez: Melissa J. Starling, Nicholas Branson, Denis Cody, Timothy R. Starling, Paul D. McGreevy

Instituição: Universidade de Sydney, Austrália

Resultado: Os pesquisadores treinaram 40 cães para responder a estímulos de recompensa e descobriram que alguns deles não esboçavam reações aos estímulos, mostrando-se, portanto, pessimistas

Cães entendem as palavras ditas a eles, diz estudo

Estudo indica que o melhor amigo do homem é capaz de processar a fala humana de forma mais sofisticada do que se imaginava (Thinkstock/VEJA)

Uma nova pesquisa traz evidências de que os cachorros entendem o que é dito, e não apenas a entonação do dono, na hora de responder a comandos
Cachorros são capazes de responder a diversos comandos feitos por seus donos, mas estes muitas vezes se perguntam se eles entendem o que é dito ou apenas a entonação ou alguma “dica” do que foi falado, respondendo de forma automática. Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira oferece as primeiras respostas para essa questão e indica que o melhor amigo do homem é capaz de processar a fala humana de forma mais sofisticada do que se imaginava.

O estudo, publicado no periódico Current Biology, traz evidências de que os cães são capazes de entender tanto componentes subjetivos da fala, como a entonação e o teor emocional, quando as palavras propriamente ditas.

“Apesar de não podermos dizer quanto ou de que forma os cães entendem informações da fala humana, podemos afirmar que os cães reagem tanto a informações verbais quanto a elementos relacionados à pessoa que fala e que esses componentes parecem ser processados em regiões distintas do cérebro deles”, afirma Victoria Ratcliffe, da Escola de Psicologia da Universidade de Sussex, na Inglaterra, e uma das autoras do estudo.

A pesquisa mostrou ainda que os cães processam a fala humana em um hemisfério do cérebro, e as informações adicionais no outro. Estudos anteriores já haviam mostrado essa tendência quando eles processam informações sonoras emitidas por outros cães.

Observando as reações — Para realizar o teste, os pesquisadores reproduziram uma série de comandos diferentes para os cães, e observaram suas reações. Nesses sons, eles misturaram as variáveis do sentido da fala e as informações adicionais, criando palavras com sentido e sem entonação alguma, palavras sem sentido e sem entonação, com sentido e com entonação e assim em diante.

Os sons foram emitidos a partir de ambos os lados do animal, para que cada ouvido recebesse o estímulo ao mesmo tempo e com a mesma amplitude, e os pesquisadores observavam para que lado os cães viravam a cabeça após escutar cada comando. “O conteúdo que chega a cada ouvido é transmitido principalmente ao hemisfério oposto do cérebro. Se um hemisfério é mais especializado em processar certas informações do som, esses dados devem vir da orelha oposta”, explica Victoria.

Assim, quando o cachorro se virava para a esquerda, indicava que a informação no som reproduzido foi captada mais proeminentemente pela orelha esquerda, o que sugere que o hemisfério direito é mais especializado em processar esse tipo de informação.

“Se nós temos um comando ao qual eles estão acostumados a responder, é familiar para eles, eles reagem de uma forma. Mas se nós misturamos as sílabas, formando algo que soa similar mas não tem sentido, o comando perde o sentido para eles também e eles reagem de forma diferente”, explica Victoria.

Quando eram apresentados comandos falados familiares, os cães mostraram uma tendência de processar principalmente no hemisfério esquerdo (ou seja, se viravam para a direita), porém quando a entonação e outras características da fala eram mais exageradas, era o hemisfério direito que agia principalmente.

“Isso sugere que o processamento dos componentes da fala no cérebro do cachorro é dividido entre os dois hemisférios de forma muito similar ao que acontece no cérebro humano”, afirma David Reby, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Sussex.

Os pesquisadores ressaltam que essa descoberta não significa que os cães entendem tudo o que os humanos dizem ou que eles possuem uma habilidade em linguagem semelhante à do homem, mas, de acordo com Victoria, os resultados confirmam a teoria de que esses animais prestam atenção “não apenas em quem somos e como dizemos as coisas, mas também no que dizemos”.

Gatos entendem (e copiam) as expressões dos donos

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A fama de egoísta sempre pega para o lado dos gatos. Mas não é bem assim.

Eles gostam tanto e prestam tamanha atenção nos donos que até imitam seus hábitos.

E não só isso. É com base nas suas reações e expressões que eles percebem o mundo – e descobrem como devem reagir às novidades.

A conclusão é de um estudo italiano. Pesquisadores convidaram 24 gatos e seus donos para ver se os animais prestavam atenção às reações dos humanos.

Cada dupla foi colocada em uma sala com um ventilador cheio de fitas plásticas verdes. A única saída de fuga da sala ficava em um ponto onde estavam uma tela e uma câmera.

“A ideia era avaliar se os gatos usam a informação emocional fornecida pelos donos sobre um objeto desconhecido para guiar seu comportamento”, diz a pesquisa.

Para isso, ao entrar na sala, os donos observaram o ventilador de forma neutra.

Em seguida, mostraram uma reação negativa (medo, afastamento do objeto) ou positiva (felicidade) – sempre olhando do gato para o ventilador e do ventilador para o gato.

Em 79% das vezes, os animais observavam o objeto e o dono, como se tentassem entender o que estava acontecendo.

Quando a expressão era negativa, os bichinhos começavam a olhar mais para a tela, onde ficava a única saída.

“Era a única saída possível. Então, olhar para a tela e depois para o ventilador sugere que os gatos estavam preocupados e queriam encontrar uma maneira de fugir”, conclui a pesquisa.

É por isso que você precisa prestar mais atenção às suas reações. Se você sente medo ou raiva, seu gato pode perceber. E copiar os mesmos sentimentos.