Em dez anos, os brasileiros vão preferir gatos a cachorros, diz estudo


O Índice Big Mac mede a valorização das moedas de cada país. Agora surge o Big Cat, um indicador de progresso baseado na população de felinos domésticos
Foto: Divulgação
Na corrida pelo coração do homem, os cachorros largaram na frente. Os primeiros lobos, ancestrais dos cães que conhecemos, foram domesticados há 100 mil anos. Eles se aproximaram dos acampamentos em busca de restos de alimentos e seus filhotes ganharam abrigo. Os gatos só entraram no nosso convívio bem depois, há 4 mil anos, no Egito. O trabalho deles era comer os ratos que se infiltravam nos depósitos de comida. Nas sociedades modernas, o cachorro manteve a primazia e ganhou o título de melhor amigo do homem, mas uma revanche dos felinos já está em andamento. A expansão e o enriquecimento das cidades e as mudanças demográficas fizeram com que o número de felinos crescesse aceleradamente em vários países. Nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, a população de gatos já é maior que a de cães. No Brasil, a virada deve ocorrer daqui a dez anos, pelos cálculos da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). “Em 2022, para cada cachorro que for visto passeando na rua de coleira, haverá um gato dentro de uma casa”, diz o engenheiro agrônomo José Edson Galvão de França, presidente executivo da Abinpet.
Cachorros são mais queridos em lares com muitas crianças. Adaptam-se melhor a um mundo que está ficando no passado: casas com quintais espaçosos e famílias numerosas, em que as mães eram donas de casa e cuidavam de tudo. Elas tinham tempo de sobra para dar água, comida, coletar as fezes dos bichos e levá-los para tosar e tomar banho. Em muitos países desenvolvidos, essa cena já é uma raridade. As famílias diminuíram de tamanho e se mudaram para os centros urbanos, onde podem usufruir de melhores escolas e hospitais. As mulheres ingressaram no mercado de trabalho e têm a agenda cheia de compromissos. No Brasil, em que a taxa de fecundidade despencou em cinco décadas de seis para 1,9 filho por mulher e três em cada cinco delas trabalham, o apelo dos cães caiu. O aumento da qualidade e da expectativa de vida, que no Brasil passou dos 73 anos, também interferiu. Idosos têm menos paciência para correr atrás dos cachorros e aturar latidos durante a noite.
Os gatos trazem inúmeras alegrias. Não é preciso levá-los para tomar banho a cada quinze ou trinta dias. Sua língua áspera, com pequenos espinhos curvos, se encarrega de coletar os pelos velhos, retirar as células mortas e as sujeiras do corpo (o custo médio de manutenção de um gato é de 200 reais, metade do de um cão). Os bichanos não precisam sair para aliviar o stress ou fazer suas necessidades na rua. Para isso, usam as caixas de areia. Apartamentos pequenos também não são um problema. Ao contrário dos cães, que precisam de grandes áreas para correr e brincar, os gatos aproveitam o espaço vertical. Sobem na geladeira, nas prateleiras e nos armários.
Arte: Divulgação
Tutores de cães e de gatos costumam entrar em discussões frequentes. Para os do primeiro grupo, felinos são egoístas. Na realidade, o que eles são é autossuficientes. Não precisam tanto dos tutores. É essa qualidade que os torna tão atraentes nos países mais ricos.
Se é ou não uma verdade, nós só saberemos no futuro, mas, o lado bom disso tudo é a prova de que o preconceito contra gatos está diminuindo. Isso sim é muito bom.
Fonte: Veja

A proibição do tratamento da leishmaniose canina e o “salvar vidas” do médico veterinário, por Mone Seixas



Após anos de luta por médicos veterinários e comunidade a favor do tratamento para a leishmaniose visceral canina (LVC), a Justiça finalmente considerou ilegal a Portaria Interministerial nº 1426, que impedia os médicos veterinários de realizarem o tratamento para a doença. A posição da Justiça permite, então, que os animais sejam tratados com medicamentos humanos. Mas, para a surpresa de alguns, o Conselho Federal da Medicina Veterinária (CFMV), indo na contramão da história e da ética, posicionou-se contra o tratamento, divulgando uma Nota de Esclarecimento. Segundo a nota, os profissionais de Medicina Veterinária que determinarem o tratamento da LVC poderão ser denunciados junto ao Conselho Regional de seu estado.
A formação em Medicina Veterinária tem como requisito o cuidado. O “salvar vidas” está inserido na profissão desde o seu surgimento, mas parece que o CFMV entende isso de outra forma. Tenta nos proibir e, mesmo após a permissão judicial, tenta nos intimidar com uma Nota de Esclarecimento. Ao nos proibir de tratar animais que, sem tratamento, provavelmente morrerão, o CFMV tenta nos impedir de fazer aquilo para que nos formamos e dedicamos anos e anos de estudo. Pede a nós que fiquemos parados assistindo, a cada dia, aos animais com leishmaniose definhando, sem tratamento. Ou, pior ainda, obriga-nos a sacrificar o animal doente para não vê-lo sofrer. O que se passa com o CFMV?
O importante é que a justiça prevaleceu e agora podemos aliviar o sofrimento dos animais com leishmaniose, também vítimas diretas das ações antrópicas de degradação ambiental, que têm influência no comportamento atual dos flebotomíneos, mosquitos vetores do protozoário causador da doença.
Soluções? Em primeiro lugar um posicionamento ético do CFMV e de todos os médicos veterinários, ao entender que o assunto envolve vidas e não simples elementos de risco à saúde humana. Em segundo, há um arcabouço de medidas que podem minimizar o quadro atual de expansão da LVC no Brasil, sendo ele: educação ambiental, vigilância epidemiológica, vigilância entomológica, investimento em pesquisas que visem modificar essa realidade em conjunto com condutas de respeito com a vida animal.
Todas essas medidas estão de acordo com a Organização Mundial de Saúde, que determina, desde 2006, como paradigma para o combate às zoonoses, o conceito de Saúde Única (One Health). Este envolve elementos da Medicina Veterinária com a Medicina Humana, a partir de pesquisas em epidemiologia e novas ferramentas, diagnóstico e vigilância, advocacia e informação, todos em harmonia para a modificação do quadro atual de zoonoses em todo o mundo.

Por que todo tutor deveria castrar seu gato


Gatos castrados tendem a ser mais caseiros, assim se envolvem menos em brigas e adoecem menos
(Foto: Thinkstock)
Existem hoje 19,8 milhões de gatos no Brasil. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que esse número chegará a 23,1 milhões em 2013. Em 10 anos, os gatos brasileiros ultrapassarão o número de cães domésticos — por ora, ainda o mais popular amigo do homem. A explosão populacional felina traz à tona uma importante questão sobre como cuidar desse animal, tipicamente selvagem, independente e predador: os benefícios da castração. O que pode parecer um ato cruel à primeira vista, é uma necessária medida para garantir a qualidade de vida do próprio animal, além do controle populacional, medida importante para evitar o abandono e os maus-tratos.
A cirurgia de castração é simples. Nos machos, apenas o testículo é removido e eles se recuperam em poucos dias. Já nas fêmeas, a esterilização é feita com a retirada total de útero e ovários. Nesse procedimento, há abertura da barriga do animal para extração dos órgãos. A cicatrização leva cerca de uma semana. “Depois da operação, os gatos domésticos saem menos de casa. É como se eles desenvolvessem um comportamento mais caseiro”, diz Susan Yamamoto, uma das fundadoras da ONG Adote um Gatinho.
Ao perambular menos pela vizinhança, os animais tendem a viver mais, simplesmente porque se expõem menos a situações de risco. Segundo Luciana Deschamps, médica veterinária e uma das fundadoras da ONG Felinos do Brasil, lugar de gato doméstico é, como o próprio nome diz, dentro de casa. “Na rua, ele vai arrumar brigas, se machucar, pegar mais doenças e ainda corre o risco de ser atropelado ou maltratado por pessoas cruéis”, diz.
No caso das fêmeas, há ainda riscos de gestações sequenciais. “Além de aumentar o número de animais que serão abandonados, essas gestações debilitam a saúde do bicho”, diz Luciana. Ao contrário das cadelas, que entram no cio apenas duas vezes ao ano, uma gata pode entrar no cio em períodos variáveis. Há animais que entram em período reprodutivo a cada dois meses, todos os meses e até mesmo aquelas que demoram apenas 15 dias. O odor que a gata exala, e que atrai o macho, pode ser sentido em um raio de até três quilômetros — razão da choradeira que atiça o ódio de vizinhos.
Obesidade felinaDe acordo com o médico veterinário Aulus Carciofi, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jabotical, o animal castrado precisa de um cuidado especial do tutor. Ao retirar as gônadas do felino, encerra-se a produção dos hormônios reprodutivos. Esses hormônios são responsáveis ainda por controlar o apetite e pela manutenção de uma massa muscular de qualidade (que consome mais calorias). Assim, sem os hormônios, os gatos acabam gastando menos energia e comendo mais. “Como resultado, ele ingere muito mais calorias do que consegue queimar. Até 40% dos gatos castrados são obesos”, diz.
Esse ganho de peso, no entanto, pode ser facilmente revertido pelo tutor. Basta fazer o controle da quantidade de ração que o animal ingere. “Estão à venda rações para gatos castrados, com menos gordura e mais fibras”, diz Carciofi. Segundo o veterinário, o indicado é que a ração de um gato castrado tenha menos do que 10% de gordura e mais de 6% de fibras. “Claro que se você estimular seu animal a fazer exercícios físicos, brincando com ele, haverá maior queima de calorias, e ele vai engordar menos.”
Fonte: Veja