Nesta época não era fácil! Saímos de Parelheiros para São Bernardo do Campo levando nossos animais para doar!!!
Dois gestos igualmente responsáveis, na mesma medida.
Doar um animal deve ser um gesto igualmente responsável quanto ao gesto de adotar?
Novo velho tempo...
Angústia continuada.
Milhares de animais no processo da “re”colocação na sociedade, infelizmente encontram velhas barreiras “re”surgindo (inúmeros “rês”) que vêm incomodando o empenho dos protetores e afetando os animais no resultado.
Cabe uma reflexão? Penso que sim!
Voluntários da proteção animal completam pouco mais de uma década na caminhada permeada em fortalecer a “re”colocação na sociedade de animais recolhidos pelo poder público ou particulares em situação de abandono e vitimados por crueldade. Muitos “re”incidentes.
Por volta dos anos 1.998 e 2.000 uma “re”tomada de rumos na proteção animal despontava na causa. Discussões se desdobravam com a finalidade de fortalecer e sustentar ambicionados novos tempos. “Re”conhecidamente, a unidade das ações se baseava em descaracterizar mitos, tomar frente nas decisões das cidades influindo na sociedade e no poder gestor, e com coragem, pelos animais, protetores decidem enfrentar transformações de conduta e comportamento dentro e fora do “mitiiê”.
Gosto de chamar de “época do big bang animal”, quando se viu a formação de novas massas no universo da proteção animal. Movimento e provocações fomentaram tomadas de posição, desdobramentos inovadores e a conquista de uma Voz audível na sociedade. Momento valioso...
À época, mesmo com pouco consenso (raro de ser absoluto) grupos defendiam que os animais deveriam viver nos abrigos improvisados e lotados, cuja população animal era permanente e sem perspectivas de “re”colocação - “coisa cultural” - mas ainda assim vencia como a opção preferida. Outros grupos, então, com conceitos modernos se organizavam para controlar o “nascimento” de novos animais, e defendiam ser a “castração” o caminho perfeito e mais objetivo.
Permitam um adendo. Pensar que esta discussão foi levantada na cidade de São Paulo em 1.996/97 com uma lei municipal “condenada” pelas protetoras: castrar significava mutilar. Sem apoio da sociedade a lei acabou contestada na Justiça pelo prefeito e julgada inconstitucional. O assunto somente voltou em 2.001, num cenário novíssimo e então ganhou adesão (Lei Municipal 13.131/01). No entanto, entre a linha radical, predominantemente dos abrigos, e a frente da “castração”, surgiram os outros grupos que entendiam ser a “doação massificada” outro pilar importante no processo. Corretíssimo, convergiam assim as ações!
Quando me recordo das primeiras “feiras de doação” (nunca gostei do nome feira), improvisadas, com poucos recursos técnicos e de logística chego arrepiar e ao mesmo tempo me emociono. Os animais eram transportados à longa distância, sem caixas de transporte ou gaiolas, em carros velhos ou “Kombi” aos destinos (espaços raros de parcerias), e chegavam sujos de xixi, coco e vômito, cansados, estressados. Nenhum castrado nem vacinado (contra raiva sim). Vermífugo então, não passava de uma dose de “licor de cacau” (xarope). Banho? Poucos eram banhados para encarar a jornada e chegavam bem “fididinhos”. Quanto esforço!
Vira-latas, SRDs, Mestiços, igualmente aos de hoje, porém os cães e gatos eram oferecidos como “coitados”, feios até, o que não sensibilizava, fazia rejeição aos potenciais adotantes, contrariamente ao que se vê hoje com o status transformado em “celebridade” merecidamente. Que grato avanço!
Porém, se concordarmos que avançamos no processo e que a “via de mão dupla/mesma medida” é um fato no ato de doar e adotar deveremos concordar também que instrumentos como a tecnologia, legislações e oportunidades de conhecimento nos garantiram um valioso suporte. Com tudo, então, não poderemos negar a “consciência da responsabilidade” em nós incorporada.
Sendo assim, por que estamos trabalhando com uma “lacuna” perigosa e permitida?
Será que além das dificuldades em “re”colocar animais adultos, idosos e dependentes, não vimos que “filhotes” estão sendo “doados/colocados” sem o rigor dos avanços conquistados para Eles? Não observamos que tais procedimentos equivocados alargam a lacuna prejudicando o impacto dos “gestos responsáveis”? Não percebemos que “força e espaço” (conquistados) estão sendo consumidos?
Nada mais idiota do que “re”utilizar o ditado: “correndo atrás do próprio rabo”. Que coisa exaustiva!
Como podemos aceitar que animais sem identificação eficiente, livres de um sistema que os protejam em caso de abandono ou de eventuais acidentes sociais estejam circulando pelas “feiras” de doação? Habitando, ou não, em lares esquecidos na “pós-adoção”?
Aceitar? Fingir não ver? Como assim?
A verdade é que cães e gatos estão voltando para as ruas. Ato contínuo novamente “re”colhidos sem sequer sabermos de onde vieram e quem os abandonou. Pior ainda, em alguns casos quando submetidos ao procedimento cirúrgico acabam por confirmar que estão castrados.
Lastimável, e lamentável observar que ainda nos faltam visão e compreensão espaciais!
Nas gigantescas regiões da cidade de São Paulo e em outras cidades os animais se espalham excluídos das estatísticas de controle. Zero controle! Os protetores parecem não se preocuparem, haja vista não exigirem das autoridades a execução de um sistema rigoroso de Registro e Identificação, mesmo sabendo que a ausência desta ação penaliza os animais e despreza uma marca-de-fidelidade para “doadores” e “adotantes” nos programas particulares e públicos que garantam a eficiência dos “dois gestos responsáveis”.
No entanto, displicentemente, cada um dos envolvidos no processo e ao mesmo tempo dissociado do processo, procura oferecer “solução” pontual e particular para este equívoco, se esquecendo e ignorando que batalhas solitárias fatalmente serão perdidas...
Quero concluir afirmando que a incansável luta para regrar satisfatoriamente as ações que caminham na “mão dupla/de igual media” precisam atingir índices de qualidade, mesmo que para isto se “re”corte na própria carne. Mais que isto, com firmeza olharmos para o “velho tempo” confiantes de “res”gatarmos a “re”conciliação dos esforços e “re”fazermos o ambicionado caminho do “tempo novo”.
Angela Caruso
Março/2012
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