Síndrome do cão preto: por que as pessoas discriminam animais escuros?

Justamente quando você acha que não tem mais espaço para novas formas de racismo no mundo, descobre que as pessoas podem ser racistas contra os cães. Enquanto os filhotes de pelo escuro permanecem definhando nos canis, seus companheiros de pelo claro são adotados. Esta tendência foi nomeada pelos trabalhadores dos abrigos de Síndrome do Cachorro Preto. “O efeito é bem real”, diz Mirah Horowitz, diretora executiva e fundadora do Lucky Dog Animal Rescue. “Recentemente tivemos uma ninhada de cinco cãezinhos muito lindos, muito fofinhos, dois amarelos e três pretos. Os amarelos saíram rapidamente, mas os pretos ficaram durante semanas”.
Cães pretos são submetidos à eutanásia com muito mais frequência e permanecem mais tempo nas agências de adoções do que os cães de cores claras. Em geral, é menos provável que encontrem um lar. Marika Bell, diretora de comportamento e realocação da Humane Society, de Washington, D.C., diz que a organização tem monitorado os animais que ficaram por mais tempo em seus abrigos desde março de 2003. Chegaram à conclusão de que três características podem colocar o animal em risco de se tornar uma “jóia oculta”: tamanho médio, idade entre 2 e 3 anos e um revestimento preto.
Que tipo de malévolo traço psicológico impediria alguém de adotar um cão baseando-se em sua cor?
Especialistas em bem-estar animal acham que a discriminação surge de diversos fatores. O conjunto dos mitos que cerca os cães pretos é sinistro. (Sinistro, de Harry Potter, é um “cão grande, preto, espectral, que assombra os adros das igrejas”, é um “mau agouro, o pior de todos, agouro de morte!”
Um estudo realizado em 2003, por psicólogos da Penn State (Universidade Estadual da Pensilvânia), revelou que as pessoas acham as imagens dos cães pretos mais atemorizantes do que as dos cães amarelos ou marrons. Os entrevistados classificaram os animais de pelo escuro como menos adotáveis, menos amigáveis e mais intimidadores. Embora a associação entre o mal e a cor negra seja mais explícita em relação aos gatos, os cães têm de enfrentar uma cultura pós Samuel Johnson e Winston Churchill que usa a metáfora do “grande cão negro” para simbolizar a depressão.
É mais difícil introduzir o brilho necessário nas fotos de cães negros.
Entretanto, não se trata apenas de superstição. Com a ascenção dos sites de adoção de animais baseados em imagens, como a Petfinder e Petango, muito do processo de adoção acontece antes mesmo da primeira visita ao abrigo. Infelizmente parece ser mais difícil conseguir fotos glamurosas de animais pretos, como explica Fred Levy: “As faces deles parecem menos expressivas e seus olhos ficam apagados”. Levy é o fotógrafo responsável pelo Projeto Cachorro Preto, que tenta dar aos caninos de cor escura o tratamento de estrelas que merecem (fotografias com problemas de iluminação também podem acionar um racismo sutil).
Devido à maneira pela qual a câmera estabelece uma média baseada nos níveis de exposição sobre a cena inteira, diz Levy, “em geral, tudo que você consegue enxergar é uma silhueta preta e uma língua grande”. Ele soluciona o problema colocando seus modelos contra um fundo negro. E Horowitz descobriu que os vídeos funcionam melhor do que as fotografias para capturar a personalidade adorável dos cães. Mas no caso de programas de adoção que não dispõem de equipamento de vídeo ou acesso a fotógrafos profissionais, as fotos de animais pretos têm menos capacidade de convencimento do que as de cãezinhos de pelo claro.
O drama do cachorro preto não fica mais fácil durante a visita ao abrigo. Enquanto os cachorrinhos brancos e amarelos atraem os olhares das pessoas, diz Horowitz, os de pelo escuro são ocultos pelas sombras das jaulas (por isso algumas organizações de resgate treinam os cachorros pretos para sentarem-se na frente dos canis nos horários de visita).
Segundo Bell, embora o preto não seja exatamente a cor mais comum entre os caninos, pode parecer que sim, o que faria com que os tutores em potencial que chegam aos abrigos em busca de algo diferente acabem deixando de adotar um cão preto.
Bell tem a sua própria teoria sobre os cachorros pretos: “Acho que tudo tem a ver com expressões faciais”, ela me explica. “As pessoas se conectam com os cães quando conseguem ler suas expressões faciais. Mas isso é complicado nos cachorros pretos. Você mal consegue ver suas sobrancelhas. Fica mais difícil humanizá-los e criar uma conexão em nível emocional”.
Por Katy Waldman (Tradução: Neuza Vollet/ ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais)

Três gatinhos cegos recebem o apoio de dois pit bulls em abrigo

(Foto: Reprodução / The Dodo)

Os felinos Helen, Bruce e Wilis perderam a visão recentemente e contam com a amizade dos cães Alfie e Frank nesse momento difícil.
                     (Foto: Reprodução / The Dodo)

Em um abrigo nos Estados Unidos, três gatos e dois cachorros encontraram apoio mútuo para enfrentar as dificuldades da vida.

Os gatinhos Helen, Bruce e Wilis chegaram ao Faithful Friends Animal Society com a saúde bastante debilitada.

Bruce e Wilis tem apenas 10 meses, e Helen tem 7 anos. Os três precisaram passar por uma cirurgia de remoção dos olhos.

Aprender a viver sem a visão não é fácil, mas eles estão contando com um apoio especial: dois pit bulls.

Os cães Alfie e Frankie também foram resgatados pelo abrigo em péssimas condições de saúde e levaram algum tempo para se recuperar. Atualmente, eles já estão bem e se tornaram grandes companheiros dos gatos Helen, Bruce e Wilis.

A voluntária Sherry Stewart também está ajudando os felinos a se ajustarem à nova vida.

(Foto: Reprodução / The Dodo)