In
anima vile (animal vil) X In
anima nobile (animal nobre)
“Se um ser sofre não pode haver nenhuma
justificação moral que respalde a nossa recusa em levar esse sofrimento em
consideração independentemente da natureza do ser.” Peter Singer
Ao decidir pelo título do artigo, a indignação que já corroia
meu duodeno enquanto pesquisava o “assunto” nos últimos dois dias, ficou ainda
mais fortalecida ao me deparar com os termos em latim “anima vile” e “anima
nobile” utilizados pela ciência.
Atente:
In anima vile = animal vil = reles, ordinário, infame,
desprezível, mesquinho, abjeto...
Como pode os animais receberem diferente tratamento,
uma vez que tal idéia há muito foi concebida, e se mantém completamente contida
num “significado” que sujeita os animais a uma utilização perniciosa e cruel
vez que o animal é o ser ignóbil!
Pesquisa. Ciência que não abre mão do uso de animais.
Assunto nevrálgico e inconveniente.
Mas, como existe limite para jogar a sujeira embaixo
do tapete vimos nessa última semana saltar aos olhos fato que alterou o
cotidiano do país. A retirada de 178 cães da raça beagle de um laboratório de
“pesquisa” em São Paulo. Ação que sinalizava há algum tempo como uma bomba
relógio em contagem regressiva.
Boom !!!
Instituto Royal - centro de referência para pesquisa
em fármaco - em nota exclusiva nesse dia 23/10/2013 - na pagina retirada do ar http://institutoroyal.org.br/ informa por intermédio de sua gerente geral (vídeo)
as perdas para a “ciência” em pesquisas - o que denomina de “patrimônio
genético” - que consumiram mais de 10 anos de esforços dos pesquisadores
dedicados a salvaguarda da saúde humana. Apelativos, atacam as pessoas pela
doença que é a meta ilustre da justificativa – a cura do câncer – doença
que fomenta vergonhosamente a corrupção no cerne e no periférico da “indústria
farmacêutica” no mundo.
Garante, também, a mesma nota que os animais, sabe-se
Deus quantos por lá passaram, foram sempre tratados com “carinho, cuidado e respeito
dentro do bem-estar animal”.
Ao ler tal afirmação remeto minha memória para a atual
legislação em que “crueldade” permanece “indefinida” de forma absoluta, e o
“pesquisador” conta com uma mobilidade indecorosa. Chamam, eles, de bem-estar
animal as medidas que só garantem vantagens para a pesquisa, nunca para os
animais: “...considerações a genética, a nutrição, as
contaminações microbiológicas e a correta manipulação, a fim de se evitar que
ocorram conclusões inválidas nos experimentos...”
Não me
iludo. Para os animais a pesquisa no modelo aí ancorado, não passa de sofrimento agudo, banal, corrupto!
Sofrimento alimentado por fortes mantenedores dos rasos
apelos à sociedade mundial para cura do câncer - a indústria farmacêutica – composta
de grandes empresas conhecidas como “Big Fharma” que transitam perfeitamente
entre duas posições: saúde e mercado.
Sem qualquer escrúpulo cronificam as doenças e
produzem medicamentos que não curam, apenas mantém os pacientes em estado
controlado enquanto consumidores serializados das drogas.
Os fármacos que curam não valem os investimentos, são
muito baratos!
O IMS Health, empresa que
audita o mercado farmacêutico mundial, divulgou recentemente o estudo IMS
Pharma Review, que analisou o cenário global e nacional do setor, e
estipulou que, em 2015, a previsão é
de um mercado de R$ 110 bilhões e o
Brasil deve aparecer na 6ª colocação em relação ao consumo mundial.
Evidente que são altos os investimentos, de risco
inclusive, como afirma a Eurofarma: “no mundo, de cada 10 mil pesquisas
farmacêuticas que são iniciadas, apenas uma é transformada em medicamento e
chega até os pacientes.”
Daí, ficamos a ouvir pelos noticiários, jornais, redes
sociais, mídias pontuais, dispensáveis comentários carregados de desinformações
e grosserias que acabam ocupando o espaço do “debate” profundo que devemos
fazer em oportunidade como esta.
Autoridades privadas e públicas devem ser chamadas às
falas a fim de revelarem de forma transparente as quantas andam os
investimentos, legislação, fiscalização e os resultados de números exorbitantes
de pesquisas realizadas em nosso país.
Deve nos incomodar o fato de perguntas fundamentais sobre
o assunto ainda não estarem disponibilizadas pela mídia e nem por aqueles que se
apresentam como representantes a causa.
A sociedade, mesmo revoltada com o sofrimento dos animais,
está confusa sobre a utilização nas pesquisas, uma vez que os pesquisadores
quando abordados aterrorizam os leigos. Por outro lado, os defensores dos
animais criticam os pesquisadores, mas não garantem se estamos, de fato, em
momento possível de dispensá-los.
Assim como os defensores dos
animais não estão avançando incisivamente antes que o assunto esvazie, as
autoridades, empresas, pesquisadores precisam ser convocadas a esclarecerem
sobre os critérios da utilização dos modelos vivos garantidos na Lei Arouca, nas
exigências da ANVISA e do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Que venham a público informar
se os laboratórios estão sendo criteriosamente fiscalizados, como se dá a
participação do poder público nos resultados das pesquisas encomendadas, e
quais valores se investem anualmente em pesquisa por intermédio da Agência
Brasileira da Inovação (FINEP)?
Quais órgãos regulamentam as
condutas éticas e comerciais da indústria da pesquisa?
Como se comporta o
CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal
desde o advento da mesma lei e quais são os avanços, se os temos?
O governo tem feito investimentos no RENAMA – Rede Nacional de Métodos Alternativos?
Métodos Alternativos estão validados no Brasil?
A BPL - Boas Práticas dos Laboratórios, editada pelo Inmetro
em 2011, está evidenciada e sendo fiscalizada nos laboratórios?
O que são validação e revalidação de medicamentos?
Para esses procedimentos é obrigatória a utilização de
animais?
Todo e qualquer laboratório está autorizado a validar
e revalidar drogas?
Estas entre outras tantas questões
podem elevar o nível do debate e esclarecer as dúvidas que hoje estão ampliadas.
Repito, o assunto é nevrálgico e
inconveniente, exigindo que importantes técnicos que são parte de nossa luta
sejam devidamente convocados para os debates. Não há espaço para leigos nessa
discussão!
No mais devemos ter em mente que para
desmitificar a ciência é preciso conhecer os preceitos da experimentação animal,
posicionar-se frente às injustiças e fazer refletir a todos até que ponto esses
procedimentos são éticos e indispensáveis.
E para finalizar provoco aos que estão
na “linha-de-frente” para que não passem ao largo de uma organização
minimamente estratégica na condução desse momento. Não se permitam perdê-lo - inédito
acontecimento – quando a coragem se fez bandeira sem siglas da honrosa luta.
“O médico americano Ray Greek,
autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais,
tenta explicar sua posição contra a utilização de animais em pesquisa
científica, afirma que tais testes são totalmente ineficientes, partindo do
pré-suposto que os animais não são modelos perfeitos para os seres humanos.
Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não
sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos
que, por sua vez, podem morrer por causa dessa droga. Em outros casos, macacos
tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são
inofensivos em seres humanos.”
Angela
Caruso
SP
25/10/2013
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