Dante o alocou no interior da terra geograficamente, só isso!
Em nome da moralização no período
medieval, século XIV, Dante, o poeta louco, na sua Divina Comédia descreve o
que presenciou no inferno. Guiado pelo espírito do poeta Virgílio observa pessoas
que nunca fizeram nada de bom ou nada de ruim serem penalizadas pela
neutralidade e vagarem pela eternidade, desesperadamente picadas por insetos. Semeadores da
discórdia cortados em pedaços e suicidas como árvores pelo fim dos tempos. Aduladores
nadando em mares de excrementos e traidores condenados a terem suas cabeças
comidas por aqueles que traíram. Pessoas excretadas por monstros e homens
forçados a se casarem com porcos. Tudo se passa ao longo de um rio de sangue
fervente e piras de fogo.
No entanto, Satã se posiciona na parte
mais profunda do inferno – que Dante afirma ser no mais profundo da Terra – e o
tal Anjo Caído está protegido por gelo imerso até a cintura.
O mais interessante é que na porta está escrito uma frase: "abandone
toda esperança aquele que por aqui entrar", seguida de outra frase
menos famosa que afirma ser aquele lugar criado pela "mais alta sabedoria e amor
primordial".
Partindo da segunda frase, entendo melhor o que Dante
comunica quando afirma que o inferno aplica suas próprias regras. A necessidade
de manter a ordem na sociedade infernal e criada na “mais alta sabedoria e amor primordial” impulsiona indivíduos e
grupos a regrarem seu próprio mundo, mesmo que de forma contraditória e
afrontada.
Passado mais de 700 anos, vê-se ainda “instituições”
imporem “moralização” à sociedade. A hipócrita decretação da moralidade visando
proteger o “espírito democrático” com tratados sociais, que não passam de
produtores de individualidades culpadas, impotentes, dependentes e
irresponsáveis.
Fatalística!
Não menos hipócrita, essa nação dantesca,
alimenta indivíduos impotentes para criar e transformar não só suas
experiências pessoais como as coletivas. Enquanto produtora e controladora de
sujeitos submissos, retorna casualmente aos próprios indivíduos os “males” e
“desordens” sociais decorrentes da dominância dos “maus” sentimentos
individuais acirradores das “discórdias”
coletivas.
De outra hipótese, a moralização moderna se ampara na
centralidade do fictício sem autocrítica. A minha “moral” me permite exigir a
sua “moral”, nada mais infernal!
O inferno não é mais o de Dante, é aqui. Não são as regras que
fazem esse inferno e sim o exigido do outro, sem paradoxo, uma confissão em
condições de particular urgência para resolver a individual “crise moral”.
E tem mais, considero o pior. Dante ao lado de Virgílio
constatam em determinado momento num dos “círculos” do seu inferno que a Natureza
e Deus são atacados com a mesma violência dirigida aos “pecadores”, e os Animais
representados pelos Centauros, Minotauro, Cachorro de três cabeças e Cadelas
ferozes e famintas ostentam a brutalidade, a violência, o instinto animal que se
farta da fidelidade com “justiça” proferida pelas próprias mãos.
Será que qualquer semelhança passa a ser mera coincidência?
O inferno é aqui mesmo!
Angela Caruso
SP 30/01/2014
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